domingo, 23 de setembro de 2012

Hirundine

No dia em que chegou o Outono fui espreitar o ninho. Já era noite e quase chuviscava. Olhei para cima. Ninguém. Estava vazio. Apenas as palhas castanhas e o barro. Sorri. “Já partiram”. 
Abri a porta de casa, pensativa. “Onde estarão, por esta hora, com este frio e ameaça de trovoada?” Esfrego os braços para cima e para baixo com a palma das mãos rija. Arrefeceu mesmo. Entro em casa despenteada. “Foste espreitá-las? A última partiu na passada quinta-feira”, disse a minha mãe. Sorrimos as duas. Silêncio. Saudade. 
Partiram dois dias antes do Outono. 
Quem as terá avisado que o Outono chegaria já com trovoada? Terão sido apanhadas pelos relâmpagos? Talvez não. Voam em média 500 km por dia, por isso se partiram quinta-feira, por esta hora já percorreram mais de mil quilómetros. Já estão bem longe, no calor do Norte de África. 
“A última partiu sozinha” – insistiu a minha mãe. “Se calhar perde-se das outras…”
Não, ficou a fechar tudo. Para o ano está cá outra vez.
Leva-me na tua asa, Hirundine. 

* Hirundine é a origem latina da palavra andorinha


2 comentários:

  1. Muito interessante e comovente, mas...
    Há por certo uma pequena confusão, porque as andorinhas costumam partir em fins de Agosto, sendo o mês de Setembro o de outra pequena ave de arribação - o tralhão!

    ResponderEliminar
  2. Olá. Muito obrigada pelo comentário.
    Segundo apurei, o tralhão é também uma ave pequena de arribação, mas é castanho, ou pelo menos acastanhado. E não tem uma cauda tão comprida.
    As que estão todos os anos naquele ninho são andorinhas, sim. As mesmas que ali chegaram em finais de Fevereiro. Ali nidificaram e dali partiram na semana passada. Por esta hora já estarão bem longe, nos bons calores do Norte de África...

    ResponderEliminar