No dia em que chegou o Outono fui espreitar o ninho. Já era
noite e quase chuviscava. Olhei para cima. Ninguém. Estava vazio. Apenas as
palhas castanhas e o barro. Sorri. “Já partiram”.
Abri a porta de casa,
pensativa. “Onde estarão, por esta hora, com este frio e ameaça de trovoada?” Esfrego os braços para cima e para baixo com a palma das mãos rija.
Arrefeceu mesmo. Entro em casa despenteada. “Foste espreitá-las? A última
partiu na passada quinta-feira”, disse a minha mãe. Sorrimos as duas. Silêncio.
Saudade.
Partiram dois dias antes do Outono.
Quem as terá avisado que o Outono chegaria já com trovoada?
Terão sido apanhadas pelos relâmpagos? Talvez não. Voam em média 500 km por
dia, por isso se partiram quinta-feira, por esta hora já percorreram mais de mil
quilómetros. Já estão bem longe, no calor do Norte de África.
“A última partiu sozinha” – insistiu a minha mãe. “Se calhar
perde-se das outras…”
Não, ficou a fechar tudo. Para o ano está cá outra vez.
Leva-me na tua asa, Hirundine.
* Hirundine é a origem latina da palavra andorinha
Muito interessante e comovente, mas...
ResponderEliminarHá por certo uma pequena confusão, porque as andorinhas costumam partir em fins de Agosto, sendo o mês de Setembro o de outra pequena ave de arribação - o tralhão!
Olá. Muito obrigada pelo comentário.
ResponderEliminarSegundo apurei, o tralhão é também uma ave pequena de arribação, mas é castanho, ou pelo menos acastanhado. E não tem uma cauda tão comprida.
As que estão todos os anos naquele ninho são andorinhas, sim. As mesmas que ali chegaram em finais de Fevereiro. Ali nidificaram e dali partiram na semana passada. Por esta hora já estarão bem longe, nos bons calores do Norte de África...