quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Rua dos dias de voam

Não é a placa que forra a esquina da minha rua, mas bem podia ser. Os meus dias voam e nem dou por eles. Passam por mim a voar. Os meus dias voam por mim, através de mim.


Ouvi esta tarde um senhor a lamentar-se que ainda ontem tinha vinte anos e num estalar de dedos passaram outros quarenta.
- "Quarenta, menina. Passaram quarenta anos e nem dei por eles."
Fixei-o. E ele continuava a desabafar ao balcão para quem o quisesse ouvir, enquanto lhe saía o vapor do café escaldado dos lábios:
- "Até aos vinte parecia que tinha tempo para tudo. A partir daí deixei de controlar o tempo. Como é que é possível?! Como é que já passaram estes anos todos?!"

Virei o espelho daquela conversa para mim.
A vida de hoje não me dá tempo para vivê-la. Corro na vida em vez de passear por ela. Corro na vida em vez de passear com ela. A passo lento.

Os dias não esperam por mim.


terça-feira, 12 de novembro de 2013

Merak. Ou "curiosidades" em turco.

- Laranja em turco diz-se “Portakala”. Quando dizemos que vimos de Portugal, temos de pronunciar bem a palavra ou entendem que somos naturais de “laranja”.

- Chá em turco diz-se “Çay”. Lê-se tchai, parecido com o som em português.

- A borra do café turco que fica na chávena, depois de tomado o café, serve para os turcos lerem a sina. Viram a chávena de cabeça para baixo e a borra que ficar no pires é lida como quem lê a palma da mão.

- Os turcos acreditam que se não fossem eles não haveria o hábito de beber café no Ocidente, uma vez que dizem que foram eles que introduziram o café na Europa.

- O pistacho quase podia ser o alimento nacional. Tudo tem pistachos! Os pistachos são servidos sempre sem sal e acompanham quase sempre as reuniões de trabalho. Imensos alimentos têm recheio de pistacho, carne com pistacho, puré de pistacho, peixe do Mar Negro com pistacho, sobremesas de pistacho, chocolate de pistacho, etc.

- Em Istambul há eléctricos como em Lisboa, mas em vez de serem amarelos são vermelhos. Hoje em dia são praticamente apenas turísticos e é fácil encontrá-los na Praça Taksim. 


- O alfabeto turco não é árabe. É uma variante do alfabeto latino. Tem 29 letras, das quais 8 são consoantes, mas não existem as letras Q, W e X.

- Os turcos adoram flores. Por todo o lado se compram e vendem flores. A Turquia é um dos maiores produtores de flores. Além da quantidade há muita variedade: dizem ter mais de 9 mil espécies de flores diferentes. Até vi rosas verdes à venda na Praça Taksim!

- Os turcos são fanáticos por futebol e adoram desportos de uma maneira geral.

- Istambul é a única cidade do mundo dividida em dois continentes – uma parte na Europa e outra parte na Ásia – apenas separadas pelo Bósforo.

- São Nicolau (St. Nicholas – o “Pai Natal”) nasceu no Sul da Turquia.

- Ataturk é venerado e adorado em todo o País. Por todo o lado há imagens (santinhos) do “pai fundador” da Turquia, num culto da personalidade excessivo.

- Em Istambul vendem-se na rua deliciosas maçarocas de milho assado na brasa por menos de um euro (2 Liras Turcas).


- O trânsito é caótico. Há quem faça marcha-atrás ou inversão do sentido de marcha em plena auto-estrada, apenas para tentar fugir ao trânsito.

- Os turcos têm por hábito mastigar “cravinho” (especiaria) depois das refeições. Dizem que serve para melhorar o processo digestivo e para promover a higiene oral. Não é raro os turcos oferecerem “cravinhos” aos seus convidados no final das refeições.

- A capital é Ankara mas Istambul é a maior cidade, onde vivem cerca de 15 milhões de pessoas.


- A média de idade na Turquia é de 31 anos.

- A origem da palavra “Turquia” é “Türk”, que significa “forte”.

- O lema nacional da Turquia é “Paz em casa, Paz no Mundo”.

- Na Turquia ninguém deve beijar-se em público. Os namorados, noivos, casais, não devem beijar-se na boca nas ruas. Antigamente era proibido por lei. Hoje já não é assim mas ainda há quem censure esse comportamento. Em Istambul essa “regra” é mais flexível. E não é aplicável aos turistas.


segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Menina do Mar

"Eu sou a menina do mar. Chamo-me Menina do Mar e não tenho outro nome. Não sei onde nasci. Um dia uma gaivota trouxe-me no bico para esta praia. Pôs-me numa rocha na maré vaza e o polvo, o caranguejo e o peixe tomaram conta de mim. Vivemos os quatro numa gruta muito bonita."














"Tu nunca foste ao fundo do mar e não sabes como lá tudo é bonito. Há florestas de algas, jardins de anémonas, prados de conchas. Há cavalos marinhos suspensos na água com um ar espantado, como pontos de interrogação. Há flores que parecem animais e animais que parecem flores. Há grutas misteriosas, azuis-escuras, roxas, verdes e há planícies sem fim de areia branca. Tu és da terra e se fosses ao fundo do mar morrias afogado. Mas eu sou uma menina do mar."


















"- Bom dia - disse o rapaz.
E ajoelhou-se na água, em frente da Menina do Mar.
- Trago-te aqui uma flor da terra - disse; chama-se uma rosa.
- É linda, é linda - disse a Menina do Mar, dando palmas de alegria e correndo e saltando em roda da rosa.
- Respira o seu cheiro para veres como é perfumada.
A Menina pôs a sua cabeça dentro do cálice de rosa e respirou longamente. Depois levantou a cabeça e disse suspirando:
- É um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfume assim. Mas estou tonta e um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. São diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas as coisas bonitas são alegres. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.
- Isso é por causa da saudade - disse o rapaz."















"Menina do Mar", Sophia de Melo Breyner Adresen - excertos