quinta-feira, 13 de março de 2014

O Bukowski é que sabe

Ia escrever. Qualquer coisa, nem sei bem. Mas tropecei casualmente neste texto de Charles Bukowski partilhado nas redes sociais pelo jornalista Rui Pelejão. Decidi, então, não escrever mais nada hoje. O Bukowski é que sabe. E diz o seguinte:


"Se não sai de ti a explodir
apesar de tudo,
não o faças.

A menos que saia sem perguntar
do teu coração, da tua cabeça, 
da tua boca, das tuas entranhas,
não o faças.

Se tens que estar horas sentado
a olhar para um ecrã de computador
ou curvado sobre 
a tua máquina de escrever
procurando as palavras,
não o faças.

Se o fazes por dinheiro 
ou fama,
não o faças.

Se o fazes para teres
mulheres na tua cama,
não o faças.

Se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.

Se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.

Se tentas escrever como outros escreveram,
não o faças.

Se tens que esperar 
para que saia de ti a gritar,
então espera pacientemente.

Se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.

Se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás preparado.

Não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de pessoas 
que se consideram escritores.

Não sejas chato nem aborrecido e pedante, 
não te consumas com auto-devoção.
As bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até adormecer
com os da tua espécie.
Não sejas mais um.

Não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio.

Não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te queime as tripas,
não o faças.

Quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só 
e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.

Não há outra alternativa.
e nunca houve."

Charles Bukowski


Charles Bukowski

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