Não sou frequentadora de Igrejas mas fui a uma missa há uns
dias para assinalar uma data especialmente difícil para a minha família. Não
era uma Igreja qualquer, era a Sé de uma capital de distrito.
Dois ou três minutos depois da hora prevista lá veio o
Padre. Entrou sozinho, vestes brancas, verdes e douradas. Não olhou para quem
estava. Não viu se eram mulheres ou homens, não viu se havia crianças ou
velhos. Não viu se havia gente nova ou apenas os rostos habituais.
Não vou abordar aqui questões religiosas, de crença, devoção
ou dúvida. Vou debruçar-me apenas nas questões de cidadania, civismo, educação,
enfim, vida em comunidade. Respeito.
Não sei o nome dele, não sei se é Bispo ou se pode vir a ser
Papa. Sei que aquele Padre é um tipo arrogante, antipático, distante, convencido
e intolerante.
A Igreja estava quase vazia. Tirando as pessoas da minha família,
estariam na Igreja umas oito ou dez pessoas. E era a principal Missa do dia, às
6 da tarde.
Despejou o discurso, como quem lê uma receita em voz alta
para si mesmo. Mal se percebia o que dizia. A homilia não tinha nada a ver com
nada. Podia ter sido dita naquele dia ou num outro dia qualquer. Podia ter sido
dita para aquela “plateia” ou para outra qualquer.
O Padre não fala às pessoas. Não fala com as pessoas. Não
fala para as pessoas. O discurso do Padre (da Igreja, diria) não chega às
pessoas. Não fala de nada que interesse às pessoas.
Juro que fiz um esforço para tentar perceber o alcance das
passagens que leu, se haveria algum paralelismo com o momento angustiante que as
pessoas atravessam, as dificuldades, os sacrifícios. Mas não. Nada. As metáforas
ou excertos que leu não traduziam nada. É como abrir “ao calhas” a lista telefónica
e ler nomes e números telefónicos de rajada. Foi isso, aquela missa.
O nome da pessoa por quem se rezava naquela missa foi dito
como quem podia estar a dizer “adeus e até logo”. Nada. Leu o nome como quem lê
o nome de um comprimido numa caixa da farmácia.
Um nome lido em três segundos. Um nome na boca de um Padre embirrante
para confortar uma família. Um nome que, para ser lido, tem de incluir dinheiro
num envelopinho. E mais o cestinho das moedas que circula de banco de madeira em
banco de madeira, e que serve para extorquir os trocos das almas desencantadas ali
sentadas a ouvir o embirrantão.
Na hora de comungar, formou-se uma pequena fila de seis senhoras.
E um rapaz, o último da fila. Quando o Padre se preparava para virar costas,
vinha ainda uma senhora velhota na passadeira central da Igreja. Curvada, a
caminho, lentamente, bengalando.
Comungou. E não se livrou do raspanete:
“Para a próxima venha mais cedo. Escuso de estar eu aqui à
espera!” – disse o Padre.
A senhora não respondeu, claro. Voltou ao seu lugar, curvada,
com a hóstia na boca e a vergonha na cara, por ter sido repreendida
publicamente pelo “Senhor Padre”.
Para a próxima venha mais cedo?! Que besta! Se fosse eu
ter-lhe-ia dito: “para a próxima não venho.”
Sim Ana, alguns serão bestas mas todos são burlões: prometer a vida eterna, a ressureição dos mortos com o corpo novamente impecável, o "céu", os milagres, é tudo simplesmente uma burla institucionalizada que levou à criação e manutenção da igreja católica (e de outras igrejas) e do poder bem terreno destes sacerdotes.
ResponderEliminarAlgumas igrejas estão vazias mas Fátima estava cheia de pessoas com dificuldades a pedirem à santa um milagre. E D.José Policarpo a afirmar que as manifestações e a revolta não resolvem nada.
Alguém o ouviu dizer que os ricos deviam dar mais da sua riqueza aos pobres? Não. Porque a igreja católica sempre esteve ao serviço dos ricos e poderosos, servindo para manter o povo servil e silencioso.
"Burlões" é um termo um pouco forte, até descabido... mas não vou discutir religião, apenas constatar um pequeno facto: depois da descrição que fizeste dessa missa, percebe-se o quão transversal esse comportamento é... e obviamente sabe-se porque estão as igrejas vazias: por causa dos homens que as quiseram servir, não por causa de "Quem" muitos ainda acreditam....
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