Em apenas dois dias ouvi da boca de dois homens dois pecados
capitais, no meu manual de pecados.
Um, quando elogiava o cheiro do meu perfume assim que entrei
no carro, disse-me que nunca usa perfume. Fixei-o como se tivesse acabado de dizer um palavrão.
- “Nunca?! Mas nunca, como?!” – perguntei-lhe incrédula.
- “Simplesmente
nunca. Nem tenho um único frasco de perfume em casa”, respondeu-me com um
sorriso. “Acho que a última – se calhar a única – vez que usei perfume foi no
meu baptismo: a água de colónia que a minha mãe me pôs!”
Riu-se. Sozinho.
Silêncio.
Apeteceu-me sair do carro naquele instante.
Outro, quando falávamos de comida, de petiscos, de prazeres
à mesa, falei-lhe num bom vinho tinto para acompanhar, disse-me com a maior das
naturalidades que não gosta de vinho, não bebe vinho.
- “Mas não bebes vinho, como? No dia-a-dia? Durante o
trabalho?”
- “Não, não, nunca bebo vinho. Nem em ocasiões especiais nem
em festas.”
Silêncio.
- “Mas por princípio?!”
- “Não, não gosto nem do cheiro”.
Hesitei.
- “És muçulmano?”
- “Não, não” – ri-se. “Só não gosto mesmo de vinho.”
Riu-se. Sozinho.
Silêncio.
- “Mas podes beber tu.”
Pintura de Jack Vettriano |
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