O pescoço adormecido na almofada treme ligeiramente à passagem da saliva. Os poros dilatados, deleitados, ajeitam-se para me deixar entrar. Percorre para lá e para cá, nas veias, um sangue selvagem. Respiração funda. Tronco firme, ligeiramente suado. A pele brilhante das pálpebras fechadas. Abertas. Pestanas. Uma mistura de cheiros. A alfazema da cama lavada. A pele, o suor, a saliva, o calor. O beijo, o aperto, o ar húmido, o incerto. O lençol a mais, a cama curta, as mãos inteiras, os lábios todos. Os lábios. A boca. Suave, suave. E os poros que dilatam. O sangue como um vinho aveludado vermelho rubi. Intenso, pleno, maduro, rubi. A chuva, ou o som dela. Um pingo. Outro. Outro. A respiração. A pele, os poros, a alma, os poros da alma. As formas que se pegam, as curvas que se cruzam, as pernas que se entalam. O mundo inteiro aqui. Os poros do mundo nus na noite de veludo. Eu e tu, nós, nus nos poros do mundo.
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"Naked man and woman", Picasso (1967) |
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