terça-feira, 29 de julho de 2014

Notícias ao balcão

Há dias em que a redacção parece um snack-bar ou um café. Nestes, ouve-se o ruído do moinho a moer café, há o som dos motores das arcas frigoríficas, há o som das máquinas que gelam a imperial, o som dos talheres que caem, o fervilhar de pessoas que entram e saem, os saltos altos das senhoras na pedra gasta do chão, o som metálico da colher que mexe o café ou o galão. Os empregados de balcão gritam uns com os outros: “sai mais um café” ou “é uma tosta mista” ou “dá-me dois rissóis de camarão”.
Na redacção é quase o mesmo. Há o som de fundo, sempre presente, da minha rádio, há o som das televisões, fixadas na parede, ligadas em simultâneo. Há o som das impressoras a soltar o noticiário que vai para o ar daí a segundos, há o som dos dedos ágeis, tão rápidos, nos teclados dos computadores, há pessoas ao telefone, há telemóveis que tocam. Há o técnico de som que grita do estúdio: “a peça da Ju está montada e pronta para entrar! Faz refresh!”. Grita-se na redacção como quem pede mais uma sandes mista, de forma quase igualmente mecânica: “olha mais um ataque em Gaza” ou “passa-me o João para directo” ou “tira-me aí o som do Cavaco” ou “és a abrir!”.
Os dias na minha redacção são de burburinho e correria. Servem-se notícias ao balcão. De fugida. À pressa. Como num café. Mas sem clientes. 



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