terça-feira, 10 de março de 2015

Distraio-me com facilidade nos regressos

Distraio-me com facilidade nos regressos. É assim no carro, no metro, no comboio ou no avião.

Na idas sinto sempre uma tensão que faz com que torne fosca a luz do sol lá fora. Sinto que passo à pressa pela margem do rio sem o mimar. Atiro um olhar fugidio para o céu, olhar egoísta só para ver se me vai chover em cima. Às vezes nem tenho a certeza se o miro nos olhos. Deslizo o nariz pelos novos cheiros de pólen primaveris, mas não os sinto como merecem. Trituro a paisagem rasgada pela velocidade do lado de fora do vidro, sem vibrar. 

O regresso é diferente. Quase sempre já noite. Quase sempre já mais calmo. Silencioso, dócil, lento. Regresso com calma e com um leve sorriso distraído. E distraio-me com facilidade. Perco-me nos detalhes que ontem, também no regresso, não tinha reparado. Invento trajectos porque já não tenho pressa para ir pelo mais rápido. Esqueço-me dos mapas, das regras, dos ruídos, das preocupações. Cansada, mas mais solta. Exausta, por vezes, mas mais leve. Mais disponível para a surpresa. Mais atenta por estar distraída. Mais viva por estar de regresso.

A vida passa mais depressa nas idas.
  


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