segunda-feira, 25 de junho de 2012

Hanami

Sempre tive atracção pelo Oriente.
Já viajei pelo Oriente, atravessando vários países, tenho lido sobre o Oriente, leio escritores orientais, vejo filmes de autores orientais e sobre o Oriente. E sinto que esse apelo vai crescendo. São povos imperiais, de culturas e tradições milenares com hábitos curiosos, sociedades interessantíssimas.
Há anos que leio livros sobre o Oriente, mesmo sobre os países que ainda não visitei. Lembro-me de, há quase dez anos, estar internada e o meu magnífico médico (do Serviço Nacional de Saúde, claro) e hoje meu amigo, me ter trazido uma História du Japam, assim mesmo em português antigo, depois de numa conversa, entre o soro e a medicação, ter partilhado com ele este meu prazer de viajar e o encanto pelo Oriente.

Desde o primeiro dia que comecei a frequentar o curso de Poesia Japonesa, em Abril, tenho andado num frenesim a tentar conhecer melhor a cultura e os hábitos japoneses. Não sei nada de japonês, o idioma, mas a poesia japonesa traduzida para português (às vezes do Brasil) ou inglês, tem sido um choque vitamínico, quase uma fixação.
Já encomendei uma pilha de livros nas livrarias e pela internet, já andei por Feiras de Livros e Alfarrabistas à procura de "coisas sobre o Japão", poesia especialmente.

- "Boa tarde. Não estranhe a pergunta, ando à procura de coisas esquisitas..."
- "Diga" - responde uma voz seca atrás de uns óculos amarelados - "nós, alfarrabistas, estamos habituados a tudo!"
- "Hayku. Quero tudo o que tenha a ver com Hayku."
- "Hummm..."
- "É um género de poesia japonesa."
- "Hummm..."

Quem me conhece bem sabe que sou excessiva, de entrega total quando me apaixono por algo. É assim com a Rádio, com o Voleibol, com os Amores. E sinto que esta onda japonesa me está a contaminar. Estou a ser tomada pelo Hayku. Ando enfeitiçada pelo Japão.
E tomei uma decisão: vou ao Japão. Já para o próximo ano, espero. E será, sem dúvida, na época das cerejeiras em flor. Quero cumprir a tradição Hanami. 


- "Hanami? Hummm...", diria o Alfarrabista. 
- "É um acto de contemplação. O Hanami é o acto humano de contemplar as cerejeiras em flor no Japão!", explicar-lhe ia sorridente, condescendente, entusiasmada. - "Quero muito fazer isso!"
- "Hummm..."




Sentar-me no chão japonês. Sentir a terra nas mãos e o fresco na pele. Ver as flores das cerejeiras de baixo para cima, seguindo a força da terra. As cerejeiras brancas, rosadas, de pontas avermelhadas. Estender as pernas, encostadas à pele da terra, relaxadas. As minhas pernas, também em flor.  
Hanami. Olhar à volta. Despertar os sentidos. Agarrar a memória. E olhá-las, mirá-las, fixá-las, descobri-las. Contemplá-las em silêncio. Cheirá-las. Fechar os olhos, cheirar, ouvir, absorver, impregnar o corpo e a mente com imagens de flores de cerejeiras.  
O que dizem? E o que dizem àquele povo? Sentir o que transmite a filigrana natural rosada, delicada, harmoniosa. Reflectir. Porque renasce, a cada ano, a natureza. Sentir. Renovar o espírito. Hanami.

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