quarta-feira, 31 de outubro de 2012
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Às segundas
Às segundas quero sempre mudar o mundo.
Planeio na almofada da noite anterior a revolução que estou decidida a fazer daí a poucas horas. Vou acordar mais cedo. Quero apanhar o sol assim que nasça, quero respirar o primeiro ar fresco da manhã, quero agarrar a vida. Quero fazer aquela história que anda há tempos na minha cabeça, quero marcar o almoço prometido e sempre adiado, quero responder às mensagens pendentes, quero ver o filme que gravei há semanas, quero ler mais vinte, trinta páginas que ontem.
Às segundas quero mudar o mundo.
Depois passa.
Já é quase terça.
Planeio na almofada da noite anterior a revolução que estou decidida a fazer daí a poucas horas. Vou acordar mais cedo. Quero apanhar o sol assim que nasça, quero respirar o primeiro ar fresco da manhã, quero agarrar a vida. Quero fazer aquela história que anda há tempos na minha cabeça, quero marcar o almoço prometido e sempre adiado, quero responder às mensagens pendentes, quero ver o filme que gravei há semanas, quero ler mais vinte, trinta páginas que ontem.
Às segundas quero mudar o mundo.
Depois passa.
Já é quase terça.
domingo, 28 de outubro de 2012
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
terça-feira, 23 de outubro de 2012
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Pecados capitais
Em apenas dois dias ouvi da boca de dois homens dois pecados
capitais, no meu manual de pecados.
Um, quando elogiava o cheiro do meu perfume assim que entrei
no carro, disse-me que nunca usa perfume. Fixei-o como se tivesse acabado de dizer um palavrão.
- “Nunca?! Mas nunca, como?!” – perguntei-lhe incrédula.
- “Simplesmente
nunca. Nem tenho um único frasco de perfume em casa”, respondeu-me com um
sorriso. “Acho que a última – se calhar a única – vez que usei perfume foi no
meu baptismo: a água de colónia que a minha mãe me pôs!”
Riu-se. Sozinho.
Silêncio.
Apeteceu-me sair do carro naquele instante.
Outro, quando falávamos de comida, de petiscos, de prazeres
à mesa, falei-lhe num bom vinho tinto para acompanhar, disse-me com a maior das
naturalidades que não gosta de vinho, não bebe vinho.
- “Mas não bebes vinho, como? No dia-a-dia? Durante o
trabalho?”
- “Não, não, nunca bebo vinho. Nem em ocasiões especiais nem
em festas.”
Silêncio.
- “Mas por princípio?!”
- “Não, não gosto nem do cheiro”.
Hesitei.
- “És muçulmano?”
- “Não, não” – ri-se. “Só não gosto mesmo de vinho.”
Riu-se. Sozinho.
Silêncio.
- “Mas podes beber tu.”
![]() |
Pintura de Jack Vettriano |
terça-feira, 16 de outubro de 2012
Nos 90 de Agustina
Recebeu-me na sua casa do Porto, sentada na poltrona verde no canto da sala. O gato preto refastelado ocupava-lhe o colo farto. Entrei. Rasgou um sorriso.
"Gosta de gatos?"
Foi, afinal, ela a disparar a primeira pergunta.
"Adoro!"
"Gosta de gatos?"
Foi, afinal, ela a disparar a primeira pergunta.
"Adoro!"
"Então pode entrar e sentar-se. Vamos lá conversar!"
Foi uma das entrevistas que mais me marcou até hoje.
Parabéns Agustina!
Foi uma das entrevistas que mais me marcou até hoje.
Parabéns Agustina!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Bestas no altar
Não sou frequentadora de Igrejas mas fui a uma missa há uns
dias para assinalar uma data especialmente difícil para a minha família. Não
era uma Igreja qualquer, era a Sé de uma capital de distrito.
Dois ou três minutos depois da hora prevista lá veio o
Padre. Entrou sozinho, vestes brancas, verdes e douradas. Não olhou para quem
estava. Não viu se eram mulheres ou homens, não viu se havia crianças ou
velhos. Não viu se havia gente nova ou apenas os rostos habituais.
Não vou abordar aqui questões religiosas, de crença, devoção
ou dúvida. Vou debruçar-me apenas nas questões de cidadania, civismo, educação,
enfim, vida em comunidade. Respeito.
Não sei o nome dele, não sei se é Bispo ou se pode vir a ser
Papa. Sei que aquele Padre é um tipo arrogante, antipático, distante, convencido
e intolerante.
A Igreja estava quase vazia. Tirando as pessoas da minha família,
estariam na Igreja umas oito ou dez pessoas. E era a principal Missa do dia, às
6 da tarde.
Despejou o discurso, como quem lê uma receita em voz alta
para si mesmo. Mal se percebia o que dizia. A homilia não tinha nada a ver com
nada. Podia ter sido dita naquele dia ou num outro dia qualquer. Podia ter sido
dita para aquela “plateia” ou para outra qualquer.
O Padre não fala às pessoas. Não fala com as pessoas. Não
fala para as pessoas. O discurso do Padre (da Igreja, diria) não chega às
pessoas. Não fala de nada que interesse às pessoas.
Juro que fiz um esforço para tentar perceber o alcance das
passagens que leu, se haveria algum paralelismo com o momento angustiante que as
pessoas atravessam, as dificuldades, os sacrifícios. Mas não. Nada. As metáforas
ou excertos que leu não traduziam nada. É como abrir “ao calhas” a lista telefónica
e ler nomes e números telefónicos de rajada. Foi isso, aquela missa.
O nome da pessoa por quem se rezava naquela missa foi dito
como quem podia estar a dizer “adeus e até logo”. Nada. Leu o nome como quem lê
o nome de um comprimido numa caixa da farmácia.
Um nome lido em três segundos. Um nome na boca de um Padre embirrante
para confortar uma família. Um nome que, para ser lido, tem de incluir dinheiro
num envelopinho. E mais o cestinho das moedas que circula de banco de madeira em
banco de madeira, e que serve para extorquir os trocos das almas desencantadas ali
sentadas a ouvir o embirrantão.
Na hora de comungar, formou-se uma pequena fila de seis senhoras.
E um rapaz, o último da fila. Quando o Padre se preparava para virar costas,
vinha ainda uma senhora velhota na passadeira central da Igreja. Curvada, a
caminho, lentamente, bengalando.
Comungou. E não se livrou do raspanete:
“Para a próxima venha mais cedo. Escuso de estar eu aqui à
espera!” – disse o Padre.
A senhora não respondeu, claro. Voltou ao seu lugar, curvada,
com a hóstia na boca e a vergonha na cara, por ter sido repreendida
publicamente pelo “Senhor Padre”.
Para a próxima venha mais cedo?! Que besta! Se fosse eu
ter-lhe-ia dito: “para a próxima não venho.”
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Ainda Eva
Já tinha escrito sobre Eva aqui no Diário Metafísico. Por estes dias Eva foi à televisão. Pelos piores motivos. E, afinal, não tem 80 anos de rugas, como eu pensava que teria. Mas 99. Noventa e nove anos...
É impossível ficar indiferente. É impossível saber de Eva sem ficar com um nó na garganta.
Angústia. Indignação. Revolta.
Que país é este que mata nas ruas os seus velhos? Que país é este que lhes permite que andem de mão estendida sem que nada aconteça?
Vergonha. Tristeza.
Má sorte não ser mãe de Ministro.

É impossível ficar indiferente. É impossível saber de Eva sem ficar com um nó na garganta.
Angústia. Indignação. Revolta.
Que país é este que mata nas ruas os seus velhos? Que país é este que lhes permite que andem de mão estendida sem que nada aconteça?
Vergonha. Tristeza.
Má sorte não ser mãe de Ministro.

sábado, 6 de outubro de 2012
Cheiro, esse
Cheiro o vinho como se o bebesse
Cheiro a fruta como se a comesse
Cheiro o campo como se nele corresse
Cheiro o mar como se nele vivesse
Cheiro o livro como se nele escrevesse
Cheiro a chuva como se nela descesse
Cheiro a lenha como se me aquecesse
Cheiro memórias como se nelas envelhecesse
Cheiro-te roupa como se me envolvesse
Cheiro-te a pele como se a percorresse
Cheiro-te o corpo
[de olhos fechados]
como se me protegesse
Cheiro-te o peito como se nele ardesse
Cheiro-te os lábios como se os mordesse
Cheiro-te os dedos como se neles crescesse
Cheiro-te o cabelo como se nele mexesse
Cheiro-te o acordar como se nele me perdesse
[como se me humedecesses]
Cheiro a saudade como se nela me escondesse
Cheiro o presente como se nele rangesse
Cheiro o futuro como se nele tremesse
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Adormecendo ao piano
E para terminar este Dia Internacional da Música, fica aqui uma das minhas músicas preferidas. Humility, Wim Mertens. Acompanha-me sempre. Para um anoitecer mais tranquilo.
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
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