segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Confissões de Silly Season

Tenho de fazer uma confissão. Sou uma dependente da informação. Não sei se isto se cura, já tentei várias terapias mas sinto que de ano para ano os sintomas se vão agravando. Talvez precise de ajuda especializada…

Ora vejamos. Se houvesse uma especialidade médica, um Senhor Doutor, que curasse dependentes de notícias e de informação, começaria por revelar-lhe alguns sintomas.

- Olhe, Sôtor, eu não sei se isto vai ser fácil, mas há indícios que eu penso que o Sôtor tem mesmo de saber. Eu, pelo menos, acho que isto não é normal.

- Então diga lá. O que é que sente?

- Olhe, um dia destes, em plena auto-estrada do Sul, parei à meia-noite e meia numa estação de serviço para tomar um café, e tive de pedir ao funcionário para aumentar o volume do televisor porque estavam a analisar uma decisão do Tribunal Constitucional. Resta dizer, Sôtor, que eu estava em pleno período de férias. Bem sei que, tendo-me apercebido que se tratava de um debate na Sic Notícias, devia ter virado a cara e evitado continuar exposta à informação. Mas não consegui…

- Humm… Isso é grave. E que mais sintomas manifesta?

- Ontem uns amigos contavam uma anedota enquanto almoçávamos. Acredita que assim que falaram em “Sócrates”, perguntei se se referiam ao antigo Primeiro-Ministro? Devo estar doente. Olharam para mim como se eu fosse um extraterrestre. Claro que não, estavam a falar de filósofos.

- Humm… Pois, isso também não é bom. Está a afunilar referências…

- Sinto-me mal, sabe? Quando estou com pessoas que não são jornalistas ou estão fora do meio político, não posso dizer as mesmas piadas, compreende? Não posso fazer trocadilhos sobre o Seguro e o Costa. Não posso dizer simplesmente a palavra “Passos”, perguntam logo: “qual Passos? O do Café?” Não posso falar simplesmente de Belém sem que pensem que estou a falar dos Pastéis ou do Belenenses. Compreende? Isto é uma enorme angústia… 

- Mas vê e lê tudo?! 

- Quase tudo, sim. Ouço noticiários, leio jornais. Até imprensa internacional, imagine...

- E que mais? Perdeu o apetite?

- Bem, isso não Sôtor. Também não exagere. Para comer e beber ainda estou bem.

- Mas consegue alimentar-se sem estar acompanhada por notícias?

[Silêncio]

- Hummm… Pois… O seu caso é sério…

- O que devo fazer, Sôtor?

- Bem, vou prescrever-lhe aqui uns comprimidos anti-notícias. Tem de tomar todos os dias pelo menos uma vez por dia até ao fim das suas férias. Todos os dias sem falhar.

- Muito bem. Obrigada Sôtor. Vou fazer isso, sim. E acha que devo tomá-los antes ou depois de ver o Telejornal? Ou é preferível logo de manhã ao pequeno-almoço durante a leitura dos jornais?





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