quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Rua dos dias de voam

Não é a placa que forra a esquina da minha rua, mas bem podia ser. Os meus dias voam e nem dou por eles. Passam por mim a voar. Os meus dias voam por mim, através de mim.


Ouvi esta tarde um senhor a lamentar-se que ainda ontem tinha vinte anos e num estalar de dedos passaram outros quarenta.
- "Quarenta, menina. Passaram quarenta anos e nem dei por eles."
Fixei-o. E ele continuava a desabafar ao balcão para quem o quisesse ouvir, enquanto lhe saía o vapor do café escaldado dos lábios:
- "Até aos vinte parecia que tinha tempo para tudo. A partir daí deixei de controlar o tempo. Como é que é possível?! Como é que já passaram estes anos todos?!"

Virei o espelho daquela conversa para mim.
A vida de hoje não me dá tempo para vivê-la. Corro na vida em vez de passear por ela. Corro na vida em vez de passear com ela. A passo lento.

Os dias não esperam por mim.


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