segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Jura

Cada vez que ouço a palavra "juro" penso sempre, à primeira impressão, que as pessoas que a dizem estão a mentir ou, pelo menos, a roçar a mentira.

As crianças dizem "juro" para garantirem aos pais e aos professores desconfiados, porventura com motivos, que não fizeram nada de errado. Mas os adultos não deviam dizer "juro" a não ser em Tribunal ou perante a Constituição da República.

Quando, a meio de uma conversa, me dizem "juro" ou me perguntam "jura?" apetece-me virar as costas. Jurar? Mas jurar porquê? A palavra não chega? Não acreditam no que se está a dizer?

Jurar o que se está a dizer é oferecer uma garantia caso o que se disse antes não seja verdade. É uma garantia verbal ao que a mesma pessoa acabou de dizer. Dita pela mesma pessoa. É um reforço de verdade como se a verdade existisse apenas em meias doses. É, portanto, uma irónica contradição.

- “Comprei isto por mil euros.”
- “Por mil euros? Só?! Não pode ser.”
- “Juro!”

Se não dissesse “juro” a outra pessoa não acreditaria? Só passou a acreditar depois de ter ouvido a palavra mágica? Uma palavra de valor reforçado que, no limite, pode também servir para reforçar uma mentira caso a primeira seja mentira também.

Qual a origem de "jurar"?
De juro ou juros? Bem sei que não, mas se fosse isso seria mesmo mau. Devia sempre ser evitado.
Se "jurar" vier de juridict, aceito que se aplique às questões ligadas à Justiça. Jurar dizer a verdade, apenas a verdade e nada mais do que a verdade. A justiça vive de rituais que devem ser preservados.

Mas, na verdade, a origem etimológica da palavra é do latim jurāre, ou seja dizer de forma única e definitiva.

Mas terá mais força uma palavra única como:
“Amo-te”
Ou uma frase de “valor reforçado” como:
“Juro que te amo”? 



1 comentário:

  1. Não é para contrariar, mas há "juras" fantásticas e intemporais. Assim de repente, lembro-me de uma, a do Rui Veloso/Carlos Tê...

    ResponderEliminar