A cena aconteceu num jantar de campanha
da coligação Aliança Portugal mas bem podia ter-se passado nas
zonas rurais da Roménia nos anos 80. Dificilmente Jean Claude
Juncker há-de esquecer esta noite. Tudo o que aqui vai ser relatado é
factual e há provas disso (registos fotográficos - vide abaixo do texto).
A organização do jantar coube à
Distrital do PSD Porto presidida por Virgílio Macedo, que não parou
um minuto: de um lado para o outro, para cima e para baixo e sempre
ao telemóvel.
O local para acolher o possível futuro
Presidente da Comissão Europeia deve ter sido meticulosamente
escolhido. Não é fácil, afinal, seleccionar um local à altura de um convidado de tamanha notabilidade.
Se imaginam um local belo, de tantos
que Portugal tem, com vista sobre o Douro ou outra magnífica
paisagem, enganam-se. Ou se imaginam que foi numa cidade ou vila
moderna, arejada, limpa e com bom ar, enganam-se novamente. Ou, ainda, se
imaginam que decorreu num salão elegante, bonito, sóbrio e bem
decorado, estão muito enganados.
O PSD e o CDS levaram Juncker para os
arrabaldes de Trofa, numa terra chamada Alto Bailares, Santiago do
Bougado. É um bairro que podia ser o fim do mundo ou apenas a
zona de conforto do rei Ghob.
Os acessos eram empedrados mas a maior
parte das pedras estavam soltas. As estradas, cheias de buracos,
pareciam caminhos de cabras. Caminhos estreitos, com casas a fazerem
de bermas e esquinas raspadas. No chão, vasos rachados com flores de plástico quase
sem cor, queimadas pelo sol. Casas com as persianas desengonçadas
cheias de pó e teias de aranha ou, quando abertas, mostrando vidros
partidos. Imóveis inacabados, em estuque. Vivendas sem tinta, em cimento ou betão armado. Placas de sinalização imperceptíveis, de tão enferrujadas.
Nessa localidade perto da Trofa, há
uma única rua e um único café: o Zairense. Cheirava a fritos, de óleo antigo, a cinco metros da porta de entrada. Nessa noite, o Zairense facturou mais que num
mês inteiro. No Zairense até a mesa de matraquilhos tinha teias de
aranha.
À porta do Zairense, Juncker não viu
carros modernos, não poluidores ou eléctricos. Não. À porta do
Zairense, Juncker terá visto um Mazda do início dos
anos 80, com matrícula ainda de relevo e contraste preto e branco.
Dos idos tempos em que Portugal nem sequer fazia parte da então CEE.
O PSD e o CDS enfiaram Juncker num
barracão, com chão de cimento, feio, frio, sujo, cheio de rachas e
ervas daninhas, cuja única entrada de acesso era através de uma
porta de garagem, com portões de ferro enferrujados. Tudo aquilo era feio.
A sala metia dó, esteticamente
falando: mesas e cadeiras de plástico encavalitadas para caber
sempre mais alguém. Umas tinham toalhas de plástico baratas, outras tinham-nas de pano, também baratas. Umas às pintas,
outras de cornucópias, umas vermelhas, outras azuis, outras beige com pintas pretas. Em cima das toalhas havia
candelabros a imitar prata – mas apenas nas mesas vip. A de Juncker
foi contemplada com uma imitação de prata de lei. E velas misturadas brancas e laranja. Derretidas.
Estavam 1200 pessoas na sala e havia
apenas uma casa-de-banho – uma. As filas chegavam à cozinha. No
corredor da casa-de-banho, junto ao urinol ao qual Juncker poderia
ter tido necessidade de recorrer, estava o quê? Pilhas de papel
higiénico? Não, meus senhores. Estão muito enganados. Estavam as
caixas do pão que seria servido às mesas. Pãozinho para o Senhor
Juncker, e os restantes 1200 confrades, directamente do WC.
E se imaginam que para que a comida
fosse servida com produtos frescos faria falta um frigorífico,
estão novamente os senhores leitores muito enganados. Para quê esse luxo? Basta uma carrinha que fica estacionada do lado de fora,
no meio da estrada empedrada, a servir de frigorífico. De lá se
tiram as saladas e os doces para a mesa do Senhor Juncker. Era um
entra e sai do barracão para o “frigo-car”, que nem fazem ideia.
Um mimo, este jantarinho.
Em vez de levarem o homem para a
Alfândega do Porto ou para a Casa da Calçada em Amarante ou para o
Parque das Nações, não senhor. Levam-no para os arrabaldes de
Trofa. “Mr. Juncker welcome to Trofa!”
Aposto que o Secretário de Estado do
Turismo Adolfo Mesquita Nunes deve ter adorado. E aposto ainda mais
que Paulo Portas, que tudo faz para vender um Portugal moderno lá
fora, há-de ter ficado encantado.
É certo que o vintage está na moda.
Mas não exageremos. Nem o Rei Ghob se sentiria bem naquele barracão.
“I love Portugal”, disse Jean-Claude Juncker no final do jantar. Pena, ter
escrito o discurso antes de ir ao Alto Bailares, Santiago do Bougado,
Trofa.
Foram a Trofa simplesmente porque o concelho tem muitos militantes do PSD.
ResponderEliminarPode se perguntar de quem e o 'barracão'?
As acessibilidades são péssimas?
Portugal também e isto.
Portugal não e só o Parque das Nações. Portugal não e só Lisboa.
Ha muito para fazer em Portugal e o investimento e desenvolvimento são sempre direcionados para as mesmas áreas do pais.
Vergonhoso...indigno...nojento...
ResponderEliminarSe o povo português, não souber dar o troco nestas eleições, vai tudo ao antigamente... Para estes tipos, sem aprumo, nem dignidade, vala tudo...
Eu Nao confio nos políticos:
ResponderEliminarMas muita coisa acontece porque eles não querem chatices:
POLITICA e administração são coisas diferentes.Será que eles sabem
algumacoisa sobre higiene e saúde?
Esta sua reportagem, Ana Catarina, tem muita piada, mesmo que o Jean-Claude Juncker NUNCA mais diga que ama PORTUGAL.
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